quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Assim Era o Natal...


Assim Era O Natal...

 

Vivíamos então na pequenina cidade catarinense chamada Riqueza. Os dias eram longos muito longos. Faltam 30 para o natal... 20 ... 10  difícil esperar a ansiedade consumia o coração. Mas lá estava ele o dia 24 de dezembro e a magia começavam.

Meus pais trancavam a sala a árvore era montada em segredo. Como ela seria? Os enfeites eram quase os mesmos todos os anos mas a criatividade despertava um rio de curiosidade. Mas o espetáculo eram os lindos prendedores que prendiam velas multicores ao pinheirinho como o chamávamos. Muitos pinheirinhos mais tarde se tornaram frondosas araucárias.

Eram velas pequenas torneadas fabricadas especialmente para esse fim, vermelhas, amarelas, azuis, a gente sabia que ia ter o momento da magia em que se pegava a caixinha de fósforos e juntos acendíamos uma por uma para desfrutarmos da luz. Os presentes muitas vezes eram fabricados pelo meu pai, carrinhos de madeira, raquetes com pintinhos que a um simples balanço picavam os grãos, palhaços coloridos que voavam na corda... outros eram comprados .Uma vez ganhamos blocos de montagem , blocos mágicos. Minha irmã se tornou a melhor engenheira que conheci, ela construía como ninguém uma casinha verde e branca, deve ser por isso que até hoje aprecio as casa verdes...

Mas o pacote de doces que cada um de nós recebia era a grande emoção. As bolachas feitas pela minha mãe com seus inúmeros desenhos com glacê e açúcar confeiteiro, de mel de vários sabores. Balas e aqueles chocolatinhos neugebauer pequenos mas deliciosos e algumas maiores guardadas para momentos especiais.

Mas tudo tinha uma solenidade especial. Só era permitido comer doce ou alguma coisa em comum acordo com  os quatro irmãos assim ninguém corria o risco de ficar sem antes que o outro. Então eram dois longos meses de negociações... e de união total é claro.Se alguém quebrasse a regra cabia outra negociação para que tudo ficasse certo outra vez.

Não havia ceia caras,  pratos mirabolantes sentávamos ao redor da árvore iluminada de velas, comíamos os delicioso biscoitos, cucas de pêssego, amendoim etc feitos por minha mãe e não me lembro ao certo creio que a bebida era café com leite. Conversávamos sobre tudo sobre nada a luz das velinhas que a gente observava sorrindo, testávamos os brinquedos, fazíamos o primeiro acordo de que chocolate comeríamos e era o natal mais divertido e lindo que o mundo conheceu...

Depois crescemos, éramos inteligentes, responsáveis, gente grande e precisávamos cuidar da nossa vida, como se isso fosse possível. Acho que pensamos que éramos os únicos habitantes e que precisávamos morar um em cada estado do país. Por muitos anos meu pai conseguiu convencer meus dois irmão e e suas famílias a permaneceram perto deles. Então nas férias os encontros familiares ainda tinha cucas, bolos , pudins e gostinho de mamãe...  até que ela se foi e com ela todos fomos para qualquer lugar... Santa Catarina, Mato Grosso, Goáis , Pará... só restam os satélites mas muito dos familiares nunca se acostumaram a eles .Agora os dias deveriam ser longos e o natal não deveria chegar jamais...Triste data...mas hoje , hoje vi o natal....

Eu estava no mercado fazendo o equilíbrio impossível de comprar o necessário pagando pouco. O Balcão de frios... lá estava ela . Uma menininha de grandes olhos cinzentos, branquinha com seu lindo vestido que deixava seu corpinho gordinho elegante. Ela ariscou com seu lindo sorriso olhando para mim: Oi ...levantei os olhos lá estava a linda criatura.

- Respondi: Tudo bem com o sorriso merecido é claro.

Ela foi rápida: como é o seu nome o sorriso e os olhos eram igualzinhos as velas coloridas do natal!!

Senti-me importante. Erica respondi e já ia perguntando o seu nome mas como uma personalidade educada e importante ela foi logo dizendo Meu nome é (Como nós adultos somos descuidados esqueci o nome da menina) e ela continuou essa é minha irmã ..(disse o nome é claro mas como uma adulta esqueci). com um gesto seguro e delicado apontou a irmã. Sorri ...  prazer em conhecê-la... Como nós adultos somos antipáticos procurei os pais com os olhos sorri e saí... não sabemos mais apreciar nem o pinheirinho nem as velas .

Mas ela era persistente em outro corredor lá estava ela me olhando e sorrindo... me encontrou de novo. Acho que é a gente que desiste do natal mas ele nunca desiste da gente.

Continuei fazendo minhas compras nós adultos somos muito responsáveis e  ocupados.Não temos tempo para coisa pequenas e insignificantes.

Já estava quase acabando me aproximei do caixa, lembrei que faltavam dois itens. voltei as prateleira e então regressei ao carrinho de compras la estava ela... uhmm quanta coisa , tudo isso. - É tudo isso,respondi .

E para que tanta coisaaaa??? Eu preciso de tudo isso. Sabe , eu vou precisar comer, tomar banho, limpar a casa e então... dei um sorriso que era o que ela realmente perguntava... e aí vou precisar de tudooo isso. Ela sorriu... e vai levar tudo para casa? (colocou as mãos na cinturinha imitando gente grande) Sim respondi com um sorriso ,é claro o sorriso é o que ela perguntava. Eu, qual o gesto que eu poderia fazer para ser como gente pequena. Ah como eu queria ser gente pequena...

Parar em qualquer lugar, perguntar o nome e mais perguntas mil, alguém que nunca vi mas poderia ser meu amigo porque não... afinal gente pequena só tem amigos e depois receber a resposta não sobre os produtos porque a ela não interessava quanto eu pagaria no caixa, mas perguntar só para ter a resposta... o sorriso e a atenção é claro e se tornar uma pequena estrela importante porque sabia perfeitamente conversar com gente grande.

O natal era assim. Hoje meu natal foi assim lindo, as velas os olhinhos brilhando, a conversa sem importância ( para gente grande) porque foi a conversa mais importante e linda dos últimos tempos, meu presente de natal eu creio , aquele natal do menininho deitado na manjedoura, na palha chorando... só para receber como resposta um sorriso... sem importar com o valor que a situação envolveria.

Quero que meu natal seja assim, biscoitos simples mas deliciosos, velas coloridas e multicores mostrando suas luzes só para iluminar o brilho dos olhos e o sorriso dos lábios, e uma menininha pequena grande menina dos  olhos brilhando interessada em saber meu nome, minhas necessidades e querendo dividir um pouco da sua vida com gesto simples apresentando a irmã... ela não saberia   enumerar nenhum item da minha compra muito menos o valor dela mas ela sabia com perfeição o que fazer para me deixar feliz, sorrindo por um tempo.. . por muito tempo... ela se tornou personagem das minhas histórias para rir e chorar, preciso pedir perdão a ela porque na minha intransigência esqueci seu nome, nunca se deve esquecer o nome de uma pessoa tão importante em nossas vidas...

Assim é o natal simples e puro como uma criança. Se fosse possível imitá-la!! Aí na solidão eu pararia alguém em um lugar qualquer... e era só dizer... oi como é seu nome, meu nome é: .... mas eu cresci.. eu cresci??? Eu morri e por isso eu desejo a todos os meus leitores...

Assim seja nosso natal:

Delicioso como os biscoitos de minha mãe

Cheio de luzes como as multicores velas.

Feliz como o sorriso da menininha...

Inocente como as perguntas feitas em um supermercado

Feliz Natal a todos! Que em 2013 possamos escrever lindas histórias para Rir e chorar... que sejam mais para rir do que para chorar.